DIVULGAÇÃO
Por Davi Carvalho
Com participação constante no podcast Analisa, da Secretaria Executiva de Comunicação (SEC), docentes do Instituto de Economia da Unicamp têm contribuído para aproximar a produção acadêmica dos grandes temas em disputa na sociedade brasileira. Com base em pesquisas e trajetórias consolidadas, os episódios abordam temas como política fiscal, desigualdade, trabalho, energia, moeda e soberania, sempre com foco nos conflitos estruturais e nas transformações em curso.
Em uma das edições de maior audiência, o professor Pedro Paulo Zahluth Bastos discutiu o legado de Getúlio Vargas, com ênfase nas políticas de industrialização e proteção ao trabalho implementadas nas décadas de 1930 e 1950. Ao recuperar esse período, o professor analisa o papel formador do Estado brasileiro e chama atenção para o apagamento histórico do trabalhismo nas narrativas da direita contemporânea.
Na mesma linha de análise crítica, o professor Marco Antonio Rocha examinou o processo de privatização da Eletrobras, à luz de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada pela Advocacia-Geral da União contra a legislação que regulamentou a desestatização. Em sua avaliação, o modelo adotado compromete a soberania nacional e pode gerar ineficiências econômicas de longo prazo.
O novo arcabouço fiscal foi tema de episódio com o professor André Martins Biancarelli. Embora reconheça a necessidade de substituir a regra anterior, o economista alertou para os riscos de restrição à ação estatal em áreas estratégicas. Para ele, o predomínio de visões fiscalistas no debate público compromete o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e garantidor de direitos.
A política de preços da Petrobras também foi alvo de reflexão. O professor Ricardo Carneiro defendeu a substituição do modelo de paridade internacional, sugerindo uma política de preços domésticos como forma de garantir a segurança energética e proteger a população — sobretudo em um país autossuficiente na produção de petróleo.
No cruzamento entre energia e meio ambiente, o professor José Maria da Silveira tratou dos desafios da transição energética. Ele destacou o potencial brasileiro na produção de energia limpa, mas apontou a ausência de um pacto nacional capaz de articular políticas públicas, inovação e mercado.
A crise do trabalho apareceu em diferentes episódios. O professor José Dari Krein discutiu os efeitos da reforma trabalhista e da pandemia sobre a precarização do emprego, destacando o impacto diferenciado sobre as mulheres. Já o professor Paulo Fracalanza abordou a proposta de mudança na jornada 6x1, apontando que a medida reabre o debate sobre o tempo de trabalho e a valorização das dimensões não produtivas da vida.
As desigualdades de gênero foram analisadas pela economista Marilane Teixeira, que comentou os desafios da implementação da lei da igualdade salarial entre homens e mulheres. Integrante do grupo interministerial que regulamenta a nova norma, ela apontou os entraves persistentes em um mercado de trabalho marcado por discriminações estruturais.
A conjuntura fiscal e política foi retomada em nova participação do professor Pedro Paulo Zahluth Bastos, que analisou a correlação de forças entre Executivo e Legislativo. Em sua avaliação, o enfraquecimento da base governista e a influência do mercado nas decisões parlamentares agravam o cenário de ingovernabilidade diante das urgências nacionais.
No campo monetário e internacional, o professor Bruno De Conti participou de dois episódios. Em um deles, discutiu o impacto das moedas digitais sobre a autonomia dos países em desenvolvimento. No outro, analisou a nova configuração do BRICS e os desafios da governança global a partir da perspectiva do Sul Global.
O professor Fernando Nogueira da Costa também foi entrevistado em duas ocasiões. Na primeira, defendeu a escolha de Márcio Pochmann para a presidência do IBGE, destacando seu compromisso com a democracia e o papel técnico do instituto. Em outra edição, comentou as implicações do modelo de empréstimo consignado via FGTS, com ênfase nos riscos e nas oportunidades para os trabalhadores endividados.
A proposta de regulamentação da reforma tributária foi analisada pelo professor Francisco Lopreato, com foco na adoção do modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e na criação de novos tributos como a CBS, o IBS e o Imposto Seletivo. Embora reconheça os avanços da proposta em relação à simplificação e à redução da cumulatividade, Lopreato alertou para a omissão de uma discussão estrutural sobre a federação brasileira. Segundo ele, a longa transição de 50 anos para redistribuição da arrecadação entre os entes federativos revela a resistência em mexer nos critérios de repartição de recursos entre União, Estados e municípios.
A presença recorrente de docentes do Instituto de Economia da Unicamp no Analisa reafirma a relevância da universidade pública na construção de uma esfera pública crítica. Ao dialogar com temas estruturantes da vida econômica e social do país, essas entrevistas contribuem para ampliar o acesso ao conhecimento e enriquecer o debate público.